Minha experiência no montanhismo
Por Henrique Mazieiro, CEO da Planetun
A ideia de me envolver no montanhismo surgiu de forma despretensiosa e eu jamais imaginaria a proporção e importância que isso tomaria na minha vida e carreira. Minha primeira experiência foi a trilha de Machu Picchu, em 2012. Na época, eu não praticava muito exercício físico e foi bem difícil concluir o trajeto. Porém, ao longo da trilha, o desafio e o período de introspecção me trouxeram um enorme aprendizado. A partir daí me vi cada vez mais envolvido nesse mundo e com o sentimento de que queria viver algo a mais.
Um dia, enquanto assistia televisão, vi algumas pessoas subindo o monte Kilimanjaro, na África. Na hora, me interessei e pensei “quero estar aí também”. Fui pesquisar empresas que faziam esse roteiro e encontrei a Grade6 Expedições, empresa que me acompanha até hoje em todas as minhas escaladas. Depois de treinos intensos, consegui, em 2013, subir os 5.895 metros do Kilimanjaro. Foi uma experiência incrível e senti o quanto aquilo tinha ligação com a minha vida pessoal e também profissional. O montanhismo traz diversos aprendizados que pude enxergar no dia a dia de trabalho, como a importância da humildade, responsabilidade e do autoconhecimento; da liderança e de se trabalhar em equipe para as coisas darem certo; assim como o planejamento estratégico e também o lado do controle emocional, administrando medos e ansiedades.
Tendo isso em mente, resolvi fazer um filme caseiro da minha viagem e quis compartilhar essa experiência com todos da minha empresa. Foi um momento tão importante e especial em minha vida, no qual pude enxergar diversos fatores que me ajudaram a mudar minhas percepções de vida e de trabalho, que quis passar todo esse conhecimento a eles também, mesmo que fosse por vídeo. Confesso que me surpreendi com o resultado. Percebi que aquilo despertou o interesse da equipe.
Depois do Kilimanjaro, em 2014, escalei o pico Tarija (5.200m), e, no ano seguinte, o Huayna Potossi (6.088m), ambos na Bolívia. Em 2016, subi o monte Elbrus (uma das montanhas que fazem parte dos 7 cumes), na Rússia, considerada a montanha mais alta da Europa, sendo 5.642 metros de altitude. Em 2017, escalei o MontBlanc (4.810m), na França, porém esse não atingi o cume. Minha última missão foi o campo base do Nepal em 2018.
Essas viagens acabavam, de certo modo, materializando e demonstrando que, às vezes, as coisas impossíveis ou distantes podem ser, sim, realizadas. Em todas elas, minha equipe se mostrava interessada e, de alguma forma, envolvida no meu projeto. Percebendo isso, procurei traçar paralelos com nosso dia a dia: planejamento, foco, controle sobre as emoções, importância em nos divertirmos com aquilo que fazemos, lidar com o imponderável e, mais do que tudo, a perseverança.
A cada viagem nova, eu mostrava a eles minhas fotos e vídeos. Mas, no fundo, sentia que faltava algo. Sempre acreditei que a experiência que eu havia vivido deveria, de alguma forma, ser vivida também por aquela equipe que tanto me acompanhava. E foi assim que consegui juntar estes dois mundos aparentemente tão distantes: o montanhismo e a equipe Planetun em um trekking na Pedra Grande, em Atibaia (SP), a 1.410 metros do nível do mar. E o resultado, claro, foi indiscutível! Trabalho em equipe, motivação, superação, sentimento de realização e orgulho próprio foram os pontos que mais me marcaram e me emocionaram. Consegui ver no olhar de cada um a alegria de terem superado muitos obstáculos.
Além disso, depois da trilha, muitas pessoas começaram a cuidar melhor da saúde, outro aspecto bem importante no esporte. Passaram a praticar exercícios físicos e até melhoraram a alimentação. É incrível saber o quanto podemos ser exemplo e dar o incentivo que faltava na vida das pessoas.
Com todas essas experiências indescritíveis, percebi que é através do montanhismo que descubro que, mesmo quando pensamos que não dá mais para continuar, ainda há muita força para ir além. A montanha ajuda a me conectar com todos os meus principais valores de vida e é lá que eu consigo me desligar e trabalhar meus medos, inseguranças e, além de tudo, refletir de forma intensa sobre meus objetivos e propósitos mais íntimos.
Foi por isso que fui ano passado para o Nepal fazer o trekking até o Campo Base do Everest, voltando pelo vale de Gokyo. A expedição durou ao todo 18 dias, sendo que por 9 dias ficamos acima dos 4.500 metros, o que tornou tudo um desafio maior já que os efeitos da altitude começam a minar gradativamente o físico e a mente. Ao todo foram mais de 145km realizados e 4 montanhas escalados sendo todos eles acima dos 5.000 metros. A experiência foi incrível tanto pela superação, como pela vivência da cultura e pelas belezas naturais da região.
Foram dois os pontos alto da viagem: dormir uma noite no campo base ouvindo os “trovões” dos desmoronamento das enormes placas de gelo nas montanhas ao redor e subir o Gokyo Ri, de onde sentei e parei para avistar todo o Vale de Gokyo cercado das maiores montanhas do mundo. Foi onde sentei, olhei e pensei com clareza sobre meus próximos objetivos, meus próximos cumes. Dentre eles colocar a Planetun em outro patamar, o que foi feito com o lançamento de produtos ligados a Inteligência Artificial.
Agora o próximo desafio será escalar o Aconcágua (6.962m), na Argentina. Quem sabe não tenho um dos meus colaboradores da Planetun comigo em mais esses desafios?